22 junho 2010

Palavrão: Aborrecimento em forma de poesia...



Saudações, Cambada!

Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua!

PRA CARALHO, qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que ela? PRA CARALHO tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. Por exemplo: O oceano tem água pra caralho. O Sol é quente pra caralho. Eu gosto de cerveja pra caralho!

No gênero do PRA CARALHO, mas expressando a mais absoluta negação, está o famoso NEM FODENDO. O NÃO, NÃO E NÃO e tampouco o nada eficaz e sem nenhuma credibilidade NÃO, ABSOLUTAMENTE NÃO, não o substituem. O NEM FODENDO é incontestável e liquida o assunto. Exemplo: Sabe aquele colega pentelho te atormenta pedindo seu carro emprestado pra sair no final de semana? Não perca tempo nem paciência, mande logo um definitivo "Cara, presta atenção: NEM FODENDO!". O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping de ônibus se encontrar com os colegas e você pode voltar sua atenção para outras atividades de maior interesse em sua vida.

Outra expressão que define uma grande medida é o PUTA. Originalmente associado às profissionais do sexo a expressão é muito utilizada para expressar grandeza e subtstitui o não tão eficaz MUITO, MUITO, MUITO. Exemplo: Darth Vader é um puta vilão. Groselha com abacate tem um puta gosto ruim. AC/DC é uma puta banda!

Por sua vez, o PORRA NENHUMA atendeu tão plenamente as situações onde era exigida, não só a definição da ausência total de algo, mas também o justo escárnio exigido pela ocasião, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em noss ambiente de trabalho. Como comentar as intimidações e ameaças daquele chefe idiota senão com um "... é especialista em porra nenhuma!", ou "... redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!". O PORRA NENHUMA, como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. São dessa mesma gênese os clássicos ASPONE (Assessor de Porra Nenhuma), CHEPONE (Chefe de Porra Nenhuma) e, mais recentemente, o PREPONE (Presidente de Porra Nenhuma).

Ainda temos a MERDA. Como não mencionar uma palavra com uma sonoridade tão pungente e capaz de definir de forma irrefutável uma coisa ruim? A MERDA põe um ponto final na questão de quanto uma coisa pode ser ruim ou dar errado. Exemplo: Não faça isso que vai dar merda. Eu tentei consertar e fiz merda. Quando a polícia chegou deu a maior merda!

Há outras expressões igualmente clássicas. Pense na sonoridade de um PUTA-QUE-PARIU, ou seu correlato PUTA-QUE-O-PARIU, falados assim, calmamente, sílaba por sílaba... Diante de uma notícia irritante, qualquer PUTA-QUE-O-PARIU dito dessa forma, te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizarem e arranjarem uma atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou se safar de maiores dores de cabeça.

E o que dizer do famoso e o preferido da maioria, VAI TOMAR NO CU? E sua maravilhosa e reforçadora derivação VAI TOMAR NO OLHO DO SEU CU. Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de lhe está perturbando e solta um sonoro: "Chega! Vai tomar no olho do seu cu!". Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e sai à rua, vento batendo no rosto, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória nos lábios e aquela sensação de missão cumprida!

E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição da Língua Portuguesa: FODEU. E sua derivação mais avassaladora ainda: FODEU DE VEZ. Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, que uma vez proferida insere seu autor em todo um contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar... O que você fala? FODEU DE VEZ! Sem contar que o nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de FODA-SE que ela fala.

Existe algo mais libertário do que o conceito do FODA-SE? O FODA-SE aumenta a auto-estima, transforma uma pessoa em uma versão melhor de si mesma. Ele reorganiza as coisas. Liberta! Exemplo: Vai querer decidir isso sozinho? Então foda-se. Não quer sair comigo? Então foda-se. Não foi você que fez a merda? Então foda-se!

O direito ao FODA-SE deveria estar assegurado na Constituição Federal: Liberdade, Igualdade, Fraternidade e Foda-se!

(adaptado do texto original de Millôr Fernandes)

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